Você sabe o que é um "episódio de praia"? Bem, se o termo não for auto-explicativo o suficiente, episódios de praia são aquele tipo de capítulo de uma história onde nada de muito relevante acontece, pois os personagens deixam seu núcleo normal e vão para a praia para descansarem e se divertirem. Tais episódios costumam ter um foco mais no lado cômico, além de muitas vezes servirem para usar as personagens femininas como veículo de fanservice. É um clichê comumente visto em animes e mangás, mas não se restringe apenas a eles, aparecendo também em HQs ocidentais, séries live-action e até em video-games. Quem quiser ter uma noção melhor do assunto, clique aqui. "E o que isso tem a ver com Mega Man?", você se pergunta. Como o título já sugere, Mega Man teve seu episódio de praia, e por mais contraditório que possa parecer, ele é uma história sobre representatividade feminina.
Imagem de um típico episódio de praia. Inclusive, sabem que anime é esse? Quem adivinhar ganha uma bala |
O "episódio de praia" em questão é o capítulo 19 da HQ de Mega Man lançada pela Archie Comics. Intitulada de "Roll with it", essa história foi escrita por Ian Flynn e desenhada por Ryan Jampole. É uma história um tanto quanto diferente das anteriores, pois Mega Man e suas desventuras não são o foco aqui. Quem assume o protagonismo são as personagens femininas da série. Enquanto Dr. Light e a Dra. Lalinde estão fazendo um upgrade em Mega Man, Roll, Kalinka e Quake Woman se divertem na praia. Parece que tudo ficará bem, até que uma tempestade começa. Como consequência dela, um navio acaba encalhando e começa a afundar. Roll tenta avisar Dr. Light, mas quem atende é Oil Man, que se propõe a ajudar, e ainda leva outra robot master junto dele. A história em si consiste nas personagens resgatando os passageiros do navio. É uma história simples, sem nada muito grandioso ou relevante em termos de continuidade, indo direto ao ponto. Mas mais que qualquer complexidade ou detalhe cronológico, essa HQ oferece certos tipos de situações que a tornam um caso digno de estudo. Por mais bobo e despretensioso que esse capítulo seja, é óbvio ululante que a intenção aqui era comunicar valores ao invés de simplesmente narrar uma história. O que faz com que uma análise da história tenha que levar isso em conta. E essa história conseguiu fazer isso direito? Bem, isso é um tanto quanto questionável.
Veja bem. Em boa parte dos casos, episódios de praia visam expor as personagens femininas de maneira sexy para o seu público. Não discutirei a validade ou não desse tipo de coisa, mas não deixa de ser questionável que uma história que visa mostrar as personagens como fortes e capazes use esse tipo de episódio como molde. Isso sem contar que Mega Man não só não tem personagens muito sexualizados, como no caso da série clássica, praticamente só tem crianças. Não que as personagens sejam expostas de maneira sexualmente explícita nesse capítulo. Óbvio, elas usam roupas de praia, mas não há nada demais nisso. Mas essa associação poderia ser facilmente evitada caso a história não se assumisse como episódio de praia, mas se passasse em um ambiente mais próximo do comum da série, com uma aventura normal. Outra coisa curiosa que esse volume fez foi incluir a Splash Woman em seu elenco. Para quem não sabe, essa HQ se passa entre Mega Man 2 e Mega Man 3, e mesmo que nada impeça que Splash Woman possa ter sido construída antes de Mega Man 9, ainda sim, parece cedo demais. Porém, tenhamos em mente que as histórias publicadas pela Archie só cobriram até meados de Mega Man 4. Se a personagem não tivesse sido inserida aqui, talvez nunca tivesse aparecido em nenhum momento. E a presença dela na HQ foi feita de maneira marcante, mesmo que breve. É uma questão de preferência, ou se entrega o fanservice (no bom sentido), ou mantém a cronologia mais próxima da do jogo. Escolha seu veneno.
E o resultado final dessa salada maluca de ideias? Bem, Roll, Splash Woman Oil Man e Quake Woman conseguem salvar todos os passageiros. Essa última inclusive, conseguiu superar seu trauma de ser enterrada viva e protagonizar um dos momentos chaves do capítulo, o que para termos de construção de personagem foi o acontecimento mais relevante da história. Kalinka acaba não tendo muita participação, o que faz sentido já que ela é criança e humana, mas se era para mostrar as personagens femininas de forma ativa, ela deveria ter participado de alguma forma. Outro ponto é que a policial feminina Roslyn Krantz não apareceu aqui, mas no lugar dela, tivemos um policial genérico. Potencial desperdiçado. Ao final, Mega Man e Dr. Light ficam sabendo do incidente, indo imediatamente a praia para evitar o pior. Lá, eles encontram Roll são e salva ajudando a atender os feridos. Todos ficam aliviados e orgulhosos, e a história termina com um clima bem positivo, com Roll, Mega Man e os demais decidindo continuar por lá e ajudando os outros, com Roll expressando seu desejo de se tornar enfermeira algum dia (que é algo que vem dos jogos. Ela já expressou explicitamente esse desejo em Rockboard, por exemplo). Só que há uma grande contradição nisso tudo. Em uma franquia regada a
cientistas loucos, máquinas do tempo, civilizações perdidas, vírus poderosos e robôs alienígenas, resgatar pessoas em um barco afundando é algo um tanto quanto trivial. É um ato menor nesse mundo maluco de robôs e batalhas. Se a intenção era equipará-las aos personagens masculinos, não seria interessante colocá-las de fato em uma aventura? Isso não torna o enredo ruim, mas não ajuda a provar o ponto que a história se propõe. Há outro problema também. Após essa história, grande parte dessas personagens femininas volta para o seu status quo, enfraquecendo muito a mensagem pretendida. Mesmo que fique implícito que as garotas possam ter outras aventuras como essas entre o que vemos na HQ, nós não vemos isso de fato. Roll é uma figura vívida e divertida, e muitas vezes é a pessoa mais inteligente e sensata da HQ, mas quase nunca as histórias usam isso a seu favor. Mas se isso pode ser justificado por Roll não ter habilidades de combate, o mesmo não se aplica a Quake Woman. Ela tem habilidades, vive em um núcleo próximo dos personagens (ao contrário da Splash Woman), mas quase nunca protagoniza a ação. É louvável que a Archie tenha tentado fazer algo para as garotas fãs da série, visto que Mega Man levou anos para se livrar da "sindrome de Smurfette", mas houve uma grande diferença entre discurso e prática. Talvez seja melhor abraçar o anacronismo do que tentar consertar um problema sem de fato fazê-lo. Ou abraçar o discurso e de fato tornar essas personagens relevantes.
Mas essa incongruências não tornam a história ruim. Esse não é um capítulo ruim. A arte de Ryan Jampole continua boa como sempre, e a sua narrativa consegue dar uma boa sensação de movimento. Mesmo sendo uma história menor, sua arte consegue dar bastante dinamismo aos acontecimentos, assim como captar o sentimento dos personagens através de pequenas sutilezas, fazendo dessa história uma leitura ágil e completa. E justamente por ter uma trama simples e direta, temos mais ação aqui do que na média das HQs da Archie. Seria interessante se tivéssemos lutas longas como o resgate dessa edição foi. Talvez seja questionável fazer um episódio de praia, talvez a mensagem dele se perca nos capítulos seguintes, mas o que importa é aproveitar a leitura do capítulo em si. E mesmo com ressalvas, eu gostei desse capítulo.
Veja bem. Em boa parte dos casos, episódios de praia visam expor as personagens femininas de maneira sexy para o seu público. Não discutirei a validade ou não desse tipo de coisa, mas não deixa de ser questionável que uma história que visa mostrar as personagens como fortes e capazes use esse tipo de episódio como molde. Isso sem contar que Mega Man não só não tem personagens muito sexualizados, como no caso da série clássica, praticamente só tem crianças. Não que as personagens sejam expostas de maneira sexualmente explícita nesse capítulo. Óbvio, elas usam roupas de praia, mas não há nada demais nisso. Mas essa associação poderia ser facilmente evitada caso a história não se assumisse como episódio de praia, mas se passasse em um ambiente mais próximo do comum da série, com uma aventura normal. Outra coisa curiosa que esse volume fez foi incluir a Splash Woman em seu elenco. Para quem não sabe, essa HQ se passa entre Mega Man 2 e Mega Man 3, e mesmo que nada impeça que Splash Woman possa ter sido construída antes de Mega Man 9, ainda sim, parece cedo demais. Porém, tenhamos em mente que as histórias publicadas pela Archie só cobriram até meados de Mega Man 4. Se a personagem não tivesse sido inserida aqui, talvez nunca tivesse aparecido em nenhum momento. E a presença dela na HQ foi feita de maneira marcante, mesmo que breve. É uma questão de preferência, ou se entrega o fanservice (no bom sentido), ou mantém a cronologia mais próxima da do jogo. Escolha seu veneno.
E o resultado final dessa salada maluca de ideias? Bem, Roll, Splash Woman Oil Man e Quake Woman conseguem salvar todos os passageiros. Essa última inclusive, conseguiu superar seu trauma de ser enterrada viva e protagonizar um dos momentos chaves do capítulo, o que para termos de construção de personagem foi o acontecimento mais relevante da história. Kalinka acaba não tendo muita participação, o que faz sentido já que ela é criança e humana, mas se era para mostrar as personagens femininas de forma ativa, ela deveria ter participado de alguma forma. Outro ponto é que a policial feminina Roslyn Krantz não apareceu aqui, mas no lugar dela, tivemos um policial genérico. Potencial desperdiçado. Ao final, Mega Man e Dr. Light ficam sabendo do incidente, indo imediatamente a praia para evitar o pior. Lá, eles encontram Roll são e salva ajudando a atender os feridos. Todos ficam aliviados e orgulhosos, e a história termina com um clima bem positivo, com Roll, Mega Man e os demais decidindo continuar por lá e ajudando os outros, com Roll expressando seu desejo de se tornar enfermeira algum dia (que é algo que vem dos jogos. Ela já expressou explicitamente esse desejo em Rockboard, por exemplo). Só que há uma grande contradição nisso tudo. Em uma franquia regada a
Teria a Archie se esquecido dela? (Via: rongs) |
Mas essa incongruências não tornam a história ruim. Esse não é um capítulo ruim. A arte de Ryan Jampole continua boa como sempre, e a sua narrativa consegue dar uma boa sensação de movimento. Mesmo sendo uma história menor, sua arte consegue dar bastante dinamismo aos acontecimentos, assim como captar o sentimento dos personagens através de pequenas sutilezas, fazendo dessa história uma leitura ágil e completa. E justamente por ter uma trama simples e direta, temos mais ação aqui do que na média das HQs da Archie. Seria interessante se tivéssemos lutas longas como o resgate dessa edição foi. Talvez seja questionável fazer um episódio de praia, talvez a mensagem dele se perca nos capítulos seguintes, mas o que importa é aproveitar a leitura do capítulo em si. E mesmo com ressalvas, eu gostei desse capítulo.
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