Mega Man Starforce é uma série subestimada. O público que
rejeita Battle Network a rejeita automaticamente, e o público que gosta de BN não necessariamente gosta de Starforce. E um dos trunfos da série - que é pouco percebido pela opinião geral - é a forma como o drama dos personagens é tratado. Em termos de tom e complexidade, a série Mega Man Zero ainda leva o troféu de mais complexa da franquia, mas nenhuma outra série de Mega Man da tanto foco nos dramas pessoais - e dramas comuns, em boa parte dos casos - quanto a série Starforce. É possível discorrer sobre vários deles, mas um dos mais interessantes é Hibiki Misora.
Antes de qualquer coisa, Misora está na série para cumprir o papel de idol - um arquétipo que é quase onipresente na cultura pop japonesa. Mas a forma como isso é feito é bem peculiar. Idols são personagens quase sempre exaltadas. São mostradas como talentosas (mesmo quando suas músicas são horrivelmente irritantes) e sua presença é sempre vista como algo positivo. E na série Starforce poderia ser diferente? De certa forma, não só pode como foi. Misora é órfão de mãe, e a música é justamente uma das formas dela se sentir ligada a sua mãe. É algo que ela faz de coração. Ela não liga tanto para fama, tampouco dinheiro, apenas quer expressar como se sente. Mas música é antes de tudo um mercado, e a pressão comercial recai sobre ela. E é aqui que as coisas ficam interessantes.
Misora e sua mãe |
Ao contrário da maioria das idol da ficção, Misora sofre com a pressão. Em dados momentos, ela só quer fugir, descansar e ficar em sintonia com aquilo que ela realmente quer cantar. No anime esse processo foi um tanto quanto diluído, mas nos jogos é dado um foco maior na jornada da personagem. O jogo sabe olhar de maneira crítica á situação de Misora, e entende o quanto o mercado da música pode ser desumanizador para uma figura tão jovem. Não que Mega Man Starforce seja um Perfect Blue da vida - até porque, falamos de um produto voltado a crianças - mas é interessante como temos uma abordagem um tanto quanto diferente aqui. Mais humanizada, menos idealizada. E por essas e outras que a série Starforce tem muito a oferecer, mas poucos parecem perceber. E se tratando de uma franquia cujo as figuras femininas passaram grande parte do tempo em segundo plano, uma abordagem como essa é uma grande evolução.
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