É um ciclo sem fim: sempre que algum jogo de Mega Man é relançado, fãs ensandecidos surgem sabe se lá de onde para registrar sua fúria contra a Capcom, além de afirmarem que o que querem não são relançamentos, mas novos jogos. A última causadora de discórdia foi Mega Man Legacy Collection 2, que conta com os Mega Man de 7 ao 10, mais alguns extras. O pedido por novos jogos é algo plenamente compreensível, mas essa tática de condenar relançamentos faz mesmo algum sentido?
Virtual Console: Uma fonte de renda sem riscos |
Se faz ou não, o ponto é que ela é ineficiente, pois tais relançamentos vendem. Mesmo em um período sem novos jogos, Mega Man vendeu em torno de um milhão de unidades apenas em relançamentos. Não é pouco. Uma reclamação constante feita quando a Capcom decide lançar uma coletânea é o porquê, ao invés de relançar, ela não faz um remake. É uma pergunta que a priori faz todo o sentido, pois em ambos os casos nós temos o jogo antigo sendo trazido de volta a tona, mas o remake tem a vantagem de realmente entregar algo novo, seja para dar uma nova experiência de jogo ao fã mais veterano, seja para atrair um jogador pouco familiarizado com jogos antigos. Mas essa linha de raciocínio costuma desprezar um fator - o fator mais determinante quando se trata da produção de qualquer coisa que seja: o dinheiro. Remakes são mais caros de se fazer do que relançamentos por demandarem mais mão de obra - pelo menos na maioria dos caso. E justamente por isso, é necessário um retorno financeiro garantido. Infelizmente, a realidade tem apontado em outra direção: é chato ser repetitivo, mas quando a Capcom tentou fazer remakes de Mega Man, as vendas foram baixas. Entre um investimento de risco e um gasto ínfimo e com garantia de retorno, é óbvio qual será a preferência.
Mega Man Powered Up tem tudo que um fã de Mega Man poderia querer. Mas não vendeu. Independente de quem é culpado disso, o fato é que o retorno não veio |
Mas há quem reclame pedindo não apenas remakes, mas jogos novos. Bem, se refazer um jogo que já existe não é lá algo tão barato, criar um novo tende a ser ainda mais caro. Mas há sempre a possibilidade de um novo jogo ser bem recebido, não? Ainda mais se levarmos em conta que não da para apenas relançar os mesmos jogos infinitamente. Porém, há outro problema aqui, e ele está na linha de raciocínio das reclamações. Relançamentos não impedem novos jogos. Um novo jogo é algo que eu, você e praticamente todos os jogadores preferem, mas a culpa de não haver novos jogos não é dos relançamentos. Isso é uma falsa dicotomia. O investimento na produção de uma coletânea, assim como o pessoal envolvido na produção da mesma é ínfimo se comparado a equipe necessária na criação de um jogo novo. É inocente pensar que são os relançamentos e coletâneas que estão impedindo um novo jogo. A existência de coletâneas e relançamentos é, por si só, inofensiva, e ainda pode gerar bons frutos. Pensem bem. Se a Capcom está cética em investir em novos jogos, uma coletânea como essas é um bom teste de público para saber se vale a pena voltar a investir.
A Inti Creates já teve seus jogos relançados no passado... |
Talvez uma questão mais pertinente é se tais coletâneas estão sendo feitas de maneira correta. E nesse ponto talvez resida o maior problema de Legacy Collection. Na prática, não há nada que impeça que todos os Mega Man clássicos da linhagem principal sejam lançados em uma única coletânea. Legacy Collection separou os seis jogos do NES dos outros quatro seguintes - excluindo Mega Man & Bass, jogo esse que é canônico e ainda é citado em Mega Man 9, deixando um pequeno, porém notável buraco nessa coletânea. Ou seja, dividiram um produto em dois para cobrar duas vezes por ele, e o mesmo ainda está incompleto. Por se tratar realmente de "ports" para uma nova engine e não apenas emulação, chega a ser compreensível que tenham dado preferência aos seis primeiros do NES e deixado os outros, que divergiam em plataformas, para depois. Mas também não é como se isso fosse caro demais ou trabalhoso ao ponto de ser inviável. Preferiram o caminho mais simples - e possivelmente mais lucrativo. O que acabou gerando uma coletânea com o ridículo número de quatro jogos em Legacy Collection 2. Não seria a oportunidade de incluir os jogos de Gameboy nessa coletânea? O Virtual Console das
plataformas da Nintendo já demonstrou que há público para eles. E ironicamente, é no Virtual Console que tais coletâneas encontram escudo: é mais barato comprá-las do que comprar os jogos separados. Mas ainda sim, o Virtual Console ainda faz um bom trabalho em resgatar esses jogos menos lembrados. E aqui cabe um relato pessoal: eu só decidi jogar Mega Man: Dr Wily's Revenge graças ao fato de que o mesmo estava barato no Virtual Console. Eu já havia jogado Mega Man V nessa época, mas se não fosse por esse relançamento, eu talvez nunca tivesse jogado os outros Mega Man de Gameboy, perdendo joias como Mega Man IV ou Mega Man Xtreme 2. Da mesma forma, Legacy Collection 2 trás consigo Mega Man 9 e 10 - com todas as DLCs inclusas - para o PC. Quase dez anos depois, tais jogos finalmente se tornam disponíveis a um público que nunca teve acesso a eles. Não vejo como isso pode ser realmente negativo. Com um histórico desses, não há como eu ter problemas com relançamentos. Desde que sejam feitos direito. E que não sejam o único produto de Mega Man no mercado.
Mega Man e Virtual Console: uma dupla que deu certo |
... E no presente segue relançado |
Mas como discussão pouca é bobagem, já é possível vislumbrar no horizonte uma nova geradora de discórdia no que diz respeito a relançamentos. Pois bem, os jogos da série Mega Man X serão relançados pela Capcom nas plataformas mais atuais, e antes mesmo que o formato de tal relançamento ser anunciado, o mesmo já gera boatos e discuções. Há quem diga que tais jogos serão, assim como Legacy Collection, relançados em duas coletâneas. ̶N̶e̶n̶h̶u̶m̶a̶ ̶f̶o̶n̶t̶e̶ ̶o̶f̶i̶c̶i̶a̶l̶ ̶d̶e̶u̶ ̶c̶o̶r̶o̶ ̶a̶ ̶t̶a̶l̶ ̶b̶o̶a̶t̶o̶,̶ ̶l̶o̶g̶o̶ ̶a̶i̶n̶d̶a̶ ̶n̶ã̶o̶ ̶h̶á̶ ̶r̶a̶z̶ã̶o̶ ̶c̶o̶n̶c̶r̶e̶t̶a̶ ̶p̶a̶r̶a̶ ̶c̶r̶e̶r̶ ̶q̶u̶e̶ ̶i̶s̶s̶o̶ ̶a̶c̶o̶n̶t̶e̶c̶e̶r̶á̶.̶ ̶N̶a̶ ̶r̶e̶a̶l̶i̶d̶a̶d̶e̶,̶ ̶e̶x̶i̶s̶t̶e̶ ̶a̶ ̶p̶o̶s̶s̶i̶b̶i̶l̶i̶d̶a̶d̶e̶ ̶d̶e̶s̶s̶e̶s̶ ̶j̶o̶g̶o̶s̶ ̶s̶e̶r̶e̶m̶ ̶r̶e̶l̶a̶n̶ç̶a̶d̶o̶s̶ ̶i̶n̶d̶i̶v̶i̶d̶u̶a̶l̶m̶e̶n̶t̶e̶,̶ ̶s̶e̶m̶ ̶c̶o̶l̶e̶t̶â̶n̶e̶a̶s̶ ̶o̶u̶ ̶c̶o̶i̶s̶a̶s̶ ̶d̶o̶ ̶t̶i̶p̶o̶ (Atualização 10/04/2018: O boato era mesmo real e a coletânea foi mesmo dividida em duas). Seria esse o formato ideal para um relançamento da série X? E jogos mais obscuros como a dupla Xtreme e Xtreme 2, ou o injustamente ignorado Xtreme 2? Uma coletânea contendo todos esses títulos mais os oito principais seria um produto excelente, mas se tais jogos forem relançados individualmente já será possível levá-los a um público maior. Outra discussão - essa, bem mais injustificada - é uma pequena discórdia entre fãs da série clássica e X sobre a relevância de uma ou outra série ser relançada. Em um primeiro momento, vi fãs da série X que atacaram Legacy Collection congratulando uma vindoura coletânea da série X, mas o contrário já começou a surgir. E eu preciso mesmo dizer o quão estúpido isso é? É inegável o peso que ambas as séries tiveram, e que justamente por isso faz sentido que ambas tenham seus jogos sempre a venda. Aos que escolheram um time para torcer nesse maldito e inútil "fla x flu", fica a máxima do senso comum: é só não comprar. Mega Man não é só clássica ou só X. E mesmo que fique a critério dos jogadores escolherem se gostarão de mais de uma das sete sub-séries que compõem esse multiverso de Mega Man, gerar rixas e divisões é péssimo para uma série que esta se reestruturando.
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