Quando a Capcom foi as pistas



     Além de Mega Man, uma das minhas grandes paixões é o automobilismo. Sim, sou um daqueles que discorda que a Formula 1 perdeu a graça com a morte de Ayrton Senna, e gosto de assistir - e de ler sobre - tantos campeonatos de corrida for possível, inclusive os de base. Mas em um primeiro momento, isso pouco tem relação com esse blog. Mega Man já ganhou um jogo de corrida no primeiro Playstation, mas tal jogo passa longe de ser unanimidade. Fora ele, a Capcom tem pouca tradição com jogos de corrida: Automodelista é muitas vezes citado, mas fora ele, nada de muito notório saiu pelas mãos da empresa. Ironicamente, a mesma Capcom já gastou seus tostões patrocinando carros de corrida ao longo dos anos 90. Vai entender...



    O primeiro caso a ser contado remete a Formula Indy. Na mesma época em que Emerson Fittipaldi já havia se consolidado como um grande piloto na categoria e atraído os olhares dos torcedores brasileiros, outros pilotos de outras partes do mundo começaram a dar mais valor ao automobilismo americano. E o Japão não estava de olhos fechados (sem trocadilhos aqui) e tratou de se mover para conseguir um piloto para chamar de seu. Não era incomum que houvessem pilotos japoneses nas categorias de base do automobilismo americano, e entre eles havia Kenji Momota. O que diferenciava ele dos outros? Justamente o patrocínio da Capcom. E por que a Capcom o patrocinou? Bem, além de ser japonês, Momota vinha de alguns bons desempenhos no Japão. Apesar de inexpressivo nos EUA, talvez alguém da casa de Mega Man visse nele uma esperança de alguma exposição. Otimistas? Sim, mas até houve uma oportunidade de brilhar em 1992.

Conseguem imaginar o desfecho dessa história?

     Apenas para situar os mais leigos no assunto: as 500 Milhas de Indianápolis (ou Indy 500 para os íntimos) é a corrida mais importante do calendário da Formula Indy, e é sem dúvida uma das - se não a mais - importantes e disputadas corridas de todo o mundo. Algumas equipes e pilotos se inscrevem apenas na mesma em busca da consagração (ou do prêmio por participar). Mas apenas trinta e três pilotos podem se classificar para a corrida, e caso o número de inscrições supere as vagas disponíveis, apenas os trinta e três  mais rápidos nos treinos classificatórios poderão entrar na corrida de fato. E por algum tempo Keiji Momota esteve entre eles. Apesar da equipe pequena, carro desatualizado e até de ter se acidentado em um dos dias de treino, o nipônico havia conseguido até então o trigésimo segundo tempo. Muito longe da vitória? Sim, mas em certas circunstâncias já é uma vitória se classificar. Mas conforme o fim da classificação chegava, Momota perdia posições. Primeiro para Gordon Johncock,depois para Jimmy Vasser, saindo assim da zona de classificação. Sem condições de superar os tempos de seus adversários, Momota simplesmente chorou sozinho ao lado de seu carro. Se serve de consolação, ele ainda teve uma extensa carreira na área jornalística, mas duvido que naquele momento isso lhe serviria de consolo.

Grid Girl da equipe da Capcom.

     A história seguinte não é tão dramática, mas chega a ser ainda mais curiosa. Principalmente pela escassez de informações. E de novo, é necessário algumas explicações: A Formula 3000 era uma categoria de base iniciada em 1985 a fim de criar uma categoria barata e competitiva que servisse escola para futuros pilotos de Formula 1. Era basicamente o último degrau até a categoria. Compará-la ao futebol sub-20 é um tanto reducionista, mas para fins ilustrativos tal comparativo vai servir. Inicialmente, a mesma surgiu como um campeonato mundial (ainda que centrado na Europa) mas com o tempo surgiram campeonatos regionais que seguiam as especificações da F3000. E o Japão foi um desses. Até agora, nada de anormal, além do fato da própria Capcom ter tido uma equipe na categoria. E porque a Capcom fez isso? Boa pergunta. Mas talvez a pergunta certa seria: e por que não? 

Equipe da Capcom de F3000 na Club Capcom. Sim, aquela mesma revista que
já trouxe a tona muito do cânone de MegaMan (Imagem: Doki Doki Gakuen)

   O que importa aqui é que entre os anos de 1991 e 1993, a Capcom não apenas patrocinou como apadrinhou uma equipe de corrida. O principal piloto dessa empreitada foi Wada Hisashi, mais conhecido como Wada-Q. O dito cujo não obteve muito sucesso pela equipe da Capcom, não vencendo nenhuma corrida por ela - o que não é demérito para ele, diga-se. Porém, ele obteve mais sucesso disputando corridas na Super GT, o maior campeonato de Turismo do Japão (e para não me estender demais, não vou me aprofundar explicando esse termo. Quem quiser ver mais, de uma olhada aqui e aqui). Em 1994, devido a uma grande crise econômica que assolou o Japão, a Capcom decidiu conter os gastos e retirar sua equipe de cena. O que é uma pena. Com o crescimento e consolidação da categoria, caso tivesse se mantido, a Capcom poderia ter criado uma sólida base de divulgação de seus produtos. Não que ela esteja necessitada nesse quesito, mas seria divertido ver o mundo dos games e o mundo das pistas interagindo. Inclusive, é muito curioso o fato da Capcom ter criado uma equipe de corridas e não ter aproveitado a deixa para lançar um jogo baseado nela.

Sou só eu ou esse carro ficou lindo nessa cor? (Imagem: My / Collection)


     É bom ter em mente que o automobilismo de monopostos (é esse um dos termo usado para os carros "tipo Formula 1") estava em ascensão no Japão, e não era incomum que pilotos estrangeiros também dessem as caras por lá. Nomes que viriam a ter algum destaque na Formula 1 como Johnny Herbert, Eddie Irvine e Ralf Schumacher (me pergunto se tais nomes vão significar algo para o leitor médio desse blog...) já passaram pela categoria, hoje conhecida como Super Formula. Patrocinar uma equipe era uma forma de conseguir visibilidade. Imagine a possibilidade de, futuramente, patrocinar uma equipe de Formula 1? Seria a consagração definitiva da Capcom, que no que tange aos arcades já era uma das soberanas da época. Abaixo, deixo um vídeo com as grid girs (eu sei que o que chama a atenção de muitos marmanjos aqui são elas e não os carros e corridas) e mais algumas imagens interessantes. Aos que não assistem uma corrida inteira nem sob ameaça de morte e ainda assim aguentaram até aqui, isso deve compensar. Espero.









          Fontes:


  1. https://www.youtube.com/watch?v=kSbqVJS5e40
  2. https://ja.wikipedia.org/wiki/WADA-Q#.E5.85.A8.E6.97.A5.E6.9C.ACF3000.E9.81.B8.E6.89.8B.E6.A8.A9
  3. https://ja.wikipedia.org/wiki/WADA-Q#%E5%85%A8%E6%97%A5%E6%9C%ACF3000%E9%81%B8%E6%89%8B%E6%A8%A9
  4. https://bandeiraverde.com.br/2011/05/20/top-cinq-cinco-historias-de-bump-day/
  5. http://dokidokigakuen.seesaa.net/category/14546203-1.html
  6. http://dokidokigakuen.seesaa.net/article/293778731.html
  7. http://aoi-midorino.sakura.ne.jp/1993/1993_f3000_s.htm
  8. https://blogs.yahoo.co.jp/sdyk629sn/10025156.html
  9. https://bandeiraverde.com.br/2013/01/11/top-cinq-forumura-indi-ne/
Share on Google Plus
    Blogger Comment

1 Comentários:

  1. Excelente artigo e curiosidade, não conhecia a história da equipe, parabéns!

    ResponderExcluir