O ano novo do Mega Man


     A partir de amanhã, entraremos em um novo ano. 2016 não foi um ano de lançamentos relevantes, mas 2017 aparenta trilhar caminhos diferentes. Uma das coisas ruins de 2016 (ou boa, dependendo da sua opinião) foi o fato da HQ de Mega Man publicada pela Archie Comics ter se mantido em seu hiato, sem qualquer previsão de que ela saia dele algum dia. Se por um lado estamos a ver navios até que a nova animação da série estreie, por outro isso abre o precedente para nos lembrarmos das histórias já publicadas. E que história melhor para lembrarmos do que uma história sobre ano novo? 

     Countdown foi uma história fechada publicada no volume 21 da HQ de  Mega  Man  e se passa justamente na virada de ano. E ela já se inicia de maneira meteórica: suas duas primeiras páginas são uma splash page onde Mega Man enfrenta Xander Payne enquanto a contagem regressiva para o ano novo se aproxima de seu fim. Após isso, entramos em um flashback que nos conduz aos eventos anteriores que levariam até aquela situação. Esse é um recurso narrativo relativamente comum para gerar interesse, mas que funciona perfeitamente aqui, ainda mais se comparado a linearidade que as histórias da Archie costumam ter. 



     A história segue com Mega Man realizando um pronunciamento na festa de ano novo. Devido a seus serviços prestados a comunidade, ele é o grande homenageado da noite. Rozlin Krantz - a policial criada exclusivamente nas histórias da Archie - aparece e o congratula por seus méritos. Mega Man, modesto como é de costume, fica um pouco sem graça com toda essa situação. Ajudar os outros é da sua natureza, então para ele seus feitos não tem nada de extraordinário. Mas o parceiro de Roslin, Gilbert D. Stern, reage de maneira oposta. Cético com os robôs, mas não necessariamente contra eles, ele sempre toma uma postura mais combativa e questionadora, de maneira a desafiar Mega Man. E essa é talvez uma das chaves do porque essa história é boa.



     Um personagem policial é algo que fez falta no cânone da série clássica. Temos Dr. Wily sendo preso em várias ocasiões, então seria natural que houvesse quem o prendesse. Além disso, um policial seria aquele que usaria a força e arriscaria sua vida antes de Mega Man e cia. aparecerem para salvar o dia. Além de preencher um papel que ficou vago nos jogos,
Um personagem chave
Gilbert insere um conflito geracional - e não a toa, ele é o mais velho dos dois policiais. E não é só isso que ele faz de relevante nessa história, há outro tipo de conflito envolvido. Mega Man é um herói, Gilbert também o é, mas não são raros os momentos onde há embates entre ambos. Não que eles lutem entre si, mas suas posturas se opõem. Justamente por vir de uma época onde robôs não eram uma constante, ele sempre toma uma postura firme contra Mega Man, desafiando-o sempre que possível. Isso faz com que Mega Man tenha que se esforçar em dobro: para derrotar seus inimigos, e para se provar digno. É quase como se ele fosse o J.J. Jamerson de Mega Man. J.J. não é um vilão, mas é um obstáculo que força o Homem Aranha a se provar digno. E é isso que acontece aqui. Essa história é, acima de tudo, uma história sobre como Mega Man merece ser reconhecido como herói. Gilbert era um personagem que eu nunca havia simpatizado, mas que após essa história se provou um acerto da Archie.

J.J. Jamerson


    O resto da história consiste em Mega Man enfrentando o grupo "terrorista" Lanças Esmeralda - também criados originalmente pela Archie. Mas ao contrário da maioria de suas aparições, eles funcionam bem aqui. Há um equilíbrio entre o lado cômico e o lado ameaçador dos vilões. Eles de fato são perigosos e exigem esforço para serem derrotados sem que causem maiores problemas, mas no fundo a HQ sabe o quão "bucha de canhão" eles são, e sabe usar isso para seu próprio bem. Nada de falas sobre leis da robótica fora de contexto ou delírios de grandeza de Ian Flynn, pois aqui o foco é a ação, e ela funciona. Não que seja o melhor trabalho de Ryan Jampole como ilustrador, mas como sempre, é no mínimo competente. Essa é uma daquelas histórias fechadas de leitura rápida e que não tem grandes pretensões. Mas é justamente por isso que ela é boa. Ela é simples e direta em usar o que a série tem de melhor. É uma leitura divertida, recomendada até para quem não acompanhava a HQ com regularidade. E da mesma forma que os personagens tem seu feliz ano novo, nós do Rockman Central desejamos um feliz ano novo a todos os nossos leitores.

Não, esse não é um spoiler do final. Fiquem
tranquilos

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