Para os mais supersticiosos, 13 é um número de azar. Para mim, que nunca liguei para esse tipo de coisa, era um número como qualquer outro. Mas eis que logo Mega Man me dá um motivo para dar atenção a tal número cabalístico. O décimo terceiro episódio da animação Mega Man Fully Charged é surpreendentemente muito bom.
Aviso: spoilers adiante (não que faça diferença, mas não digam que não avisei)
Não que seja tão absurdo um episódio dessa animação ser bom. Apesar de irregular, ela tende a ter os seus acertos. Mas há algumas coisas nela que costumam me incomodar. A atitude errática e desleixada de Aki Light, o Mega Man dessa animação, é uma delas. Despojado, piadista e inconsequente, Aki é um Mega Man muito diferente do personagem original. Ele lembra muito mais o Ben 10 do que o Mega Man propriamente dito, e levando em conta que essa é uma animação do mesmo estúdio que Ben 10, isso faz muito sentido. Isso não é necessariamente ruim, mas ao menos comigo isso não funcionou. Talvez por ter uma visão diferente do personagem, ou por simplesmente não conseguir me envolver com esse novo Mega Man, muitos momentos dessa animação acabam sendo uma experiência pouco divertida. Mas todo o arco de personagem que Aki tem nesse episódio não apenas contorna essa "falha" como acaba sendo edificante para o personagem.
Na trama, Mega Man tenta conter um incêndio usando o poder de Wave Man e Ice Man, sem grande sucesso. E para a surpresa de Aki, o próprio Ice Man aparece em seguida e contém o incêndio da maneira mais espalhafatosa e teatral possível. Aki se sente frustrado por não ter sido útil, e acaba tentando descontar sua raiva no próprio Ice Man, que não apenas contorna a situação como diminui Mega Man publicamente. E isso o atinge de maneira ainda mais forte.
Aqui, cabe uma pequena explicação. Nessa animação, quando Mega Man adquire o poder de algum Robot-Master, ele acaba por absorver parte de sua personalidade por tabela (ideia muito boa, diga se de passagem). Normalmente isso não o afeta, mas ao usar muito exaustivamente essas habilidades, tais traços de personalidade podem acabar tomando conta dele ou gerando manifestações físicas. E de certa forma, ambas as coisas acontecem com Aki. Se sentindo incapaz, os poderes de gelo tomam conta do personagem, deixando tanto seu corpo como sua personalidade mais "frios". Ou seja, não apenas ele não consegue lutar, como o "gelo" gerado por ele causa problemas ao personagem, que se sente incapaz de lidar com esse poder.
Enquanto isso, Ice Man segue em sua saga heroica um tanto distorcida. Preocupado demais com os resultados e com a plasticidade de suas ações, Ice Man segue tentando "salvar o dia", gerando ainda mais caos do que haveria se não fizesse nada. E tal tendência encontra seu clímax em um assalto a banco que toma quase metade do episódio. Ice Man, focado em deter os bandidos, acerta inocentes no processo, causando mais dano que o assalto em si (e é curioso que os ladrões são dois humanos e um robô, é divertido ver esse tipo de interação, mesmo que breve). Suna, a "irmã" de Mega Man (para quem nunca assistiu um episódio sequer dessa animação, Suna cumpre o papel que antes era da Roll, mas ao contrário da mesma, Suna é humana) tenta motivá-lo, inicialmente sem muito sucesso. Até que ela tem uma ideia: questionar o que é ser um herói para ele, e se era isso que Ice Man estava sendo.
Aqui temos o pulo do gato do episódio. O próprio personagem conclui que ser um herói não implica em fama e glória, mas em ajudar as pessoas. A proteger quem precisa. Saber o peso de suas ações. Ice Man não era um herói pois se preocupava mais em parecer um do que em ser um. E ele não se importava com as consequências disso. Não apenas Aki percebe que Ice Man deve ser detido como percebe quem ele realmente é e sua motivação em lutar. Ou seja, além de termos um arco de personagem onde o protagonista questiona e supera as suas próprias falhas ao vê-las refletidas em outrem, ele também não deixa espaço para que Aki seja inconsequente e errático. Logo, ele acerta perfeitamente no tom da caracterização de Aki. A partir daqui, ambos entram em conflito, em uma luta que não chega a ser épica ou coisa do tipo, mas que é eficiente e até criativa (há uma certa cena com uma rampa vai chamar a atenção de quem assistir).
De resto, não há muito mais o que falar. A animação é padrão da série, com todas as qualidades e defeitos que isso costuma acarretar. O visual é alegre e colorido, mas os figurantes são mais estáticos que o necessário. Há gags feitos em pixel-art de maneira divertida e competente, e o Robot-Master que protagoniza esse episódio pode não ser idêntico ao jogo, mas é bem caraterizado e tem seu carisma. Não é uma obra prima, longe disso, mas vale perder dez minutos para assistir. Até para quem nunca viu nada dessa animação. Deixo o link do episódio abaixo.
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