O 8-bit também pode ser belo e atrativo mesmo hoje (ou a dez anos atrás)

(Imagem: IGN)

     Uma coisa engraçada é que tenho muito mais lembranças de Mega Man associadas a "era das lan houses" nos anos 2000 do que na "era de ouro das locadoras" nos anos 90. Para quem não sabe, meu único console foi por muito tempo um famiclone. Isso nunca foi um problema, pois sempre terminei com outros consoles em mãos, como SNES e PS1 emprestados por parentes, mas antes de meu primeiro emprego, o único console realmente meu foi um Magic Computer da Dynacom. E ele também era o mais próximo de um computador que existia em minha casa. Logo, se eu não conseguisse uma fita ou console emprestado, eu tinha que jogar o que quer que fosse nas Lan Houses. O que gerava a insólita cena de um garoto jogando Mega Man 8-bits em meio aos GTA, Need for Speed e afins. E assim foi até eu conseguir meu primeiro computador.

O local do ocorrido - e surpreendentemente,
 essa Lan House ainda existe (Imagem:  Booking)

     Lembro de uma vez estar jogando Mega Man 4 na principal Lan House de minha cidade. Normalmente eu jogava com a janela do emulador em tamanho médio, mas quase nunca em tela cheia. Empolgado com minha jogatina, decidi maximizar o emulador e ver a beleza do jogo como se deve. E eu realmente estava achando o jogo visualmente lindo. Até hoje acho, diga-se. Mas eu já tinha olhar treinado para jogos antigos. Em tempos de gráficos tridimensionais, pixel-art se torna cada vez mais um gosto adquirido. Logo, achei que fora alguns olhares de estranheza, ninguém ligaria muito para o que eu estava jogando. Mas não é que ligaram?



     Quando dei por mim, havia uma pequena roda de garotos - alguns até mais novos do que eu - me olhando jogar. Naquele exato momento, eu estava na fase do Drill Man, bem compenetrado com o que eu fazia. A música me embalava, o cenário me fascinava e despertava a curiosidade dos que estavam em volta. Eu não me lembro se cheguei a conversar com algum deles, mas me lembro de ter escutado os garotos se questionando que jogo era aquele. Eu sorri. Era duplamente divertido jogar nessas circunstâncias. É quase como assistir a um filme no cinema. Mais do que a experiência do filme em si, a experiência coletiva de assisti-lo engrandece o que se assiste. 



     Hoje me pergunto se aqueles garotos se lembram desse dia como eu me lembro. Provavelmente não. Mas gosto de imaginar que ao menos algum deles passou a jogar Mega Man. Mas algo que mais provavelmente aconteceu é que mesmo os interessados não devem ter procurado saber do que se tratava, já que se tratava de um jogo tecnologicamente defasado. E é curioso como os video-games, mais que qualquer outra mídia, tendem a ter problemas com isso. Até faz sentido quando se pensa que video-games são fundamentalmente computadores, mas me incomoda o quanto a fetichização tecnológica é intrínseca ao apelo de um jogo. Um filme pode usar efeitos práticos, uma animação pode ser feita em 2D de modo tradicional e tudo isso pode ser visto como escolha estética. Mas um jogo, se quer ser relevante, deve usar toda a tecnologia possível, ou será um jogo "menor". Foi divertido romper esse "cerco tecnológico", ainda mais quando não me diverti sozinho. Nostalgia a parte, sigo jogando Mega Man 4, entre outros. Me pergunto se aqueles garotos ainda jogam os mesmos jogos que jogavam na época. Talvez joguem, mas provavelmente não. Talvez nem joguem  mais... E só para não perder o clima, deixo o tema da fase do Drill Man. Não é o mais icônico dos temas de Mega Man, mas gosto muito de sua sonoridade. 


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